17 de julho de 2009

Acho que vi um gatinho... SIGFRIED & ROY

Até hoje me espanto quando vejo um mágico fazer com perfeição sua luva branca se transformar em um pombinho. Manipular a vida- e a morte- é uma das habilidades que mais me chama a atenção quando penso no trabalho do mágico. Qualquer um que transforma um pedaço de pano em um pássaro que sai voando, na minha cabeça, ganha imediatamente o status de herói. Dois caras alemães foram até Las Vegas e fizeram mais, muito mais.

Os parceiros Siegfried Fischbacker e Roy Horn ficaram famosos e multimilionários com seu show de mágicas com animais selvagens. Antes deles, Las Vegas não existia para os mágicos. Apenas astros da música com o calibre de Elvis Presley e Tom Jones conseguiam faturar e deixar seus associados satisfeitos por ali, inflando a freqüência da cidade, dos hotéis e dos cassinos. A dupla de mágicos fez sua primeira apresentação em Vegas no ano de 1965, no hotel Tropicana. O único “animalzinho” em cena era uma chita, um felino alongado e elegante. Eles faziam com o animal a metamorfose de Houdini. A partir daí, dotados de uma obstinação ímpar, inventaram o Magic business local.

Siegfried e Roy desde o início desejavam levantar um espetáculo com a grandiosidade e o glamour de Las Vegas, e a intuição empreendedora dos dois acertou na mosca. A combinação da mágica com animais selvagens leva às últimas conseqüências a idéia da ilusão: não só o mágico cria a vida abundante como também é capaz de domar sua ferocidade.

A chiita pé-quente: o felino alongado e elegante foi o primeiro parceiro selvagem da dupla, quando Las Vegas ainda engatinhava.

O especialista em animais da dupla é Roy. Desde sempre gostou das feras e conta que, ainda criança, teve a vida salva por um bichinho de estimação. Roy não adestra seu elenco felino. Ele acredita que o importante na comunicação entre homens e animais é a tentativa de entendimento. Ele simplesmente se sintoniza com seus bichos e se diz capaz de compreender suas necessidades, antecipando seus movimentos e desejos. Antes dos shows, Roy medita com os animais, para se concentrar e fazer com que os felinos fiquem calmos. No dia-a-dia, quando é derrubado por um tigre, morde seu focinho. Roy age e reage como se fosse um deles.

Siegfried sempre se impressionou com o relacionamento de Roy com os animais, mas sua postura em relação a eles é outra. O parceiro de Roy também ama os bichinhos, mas guarda deles uma certa distância respeitosa. Cada um com seu espaço. Isso fica evidente quando vemos o show da dupla. Roy é quem interage com os animais mais ferozes, sendo com eles protagonista das aparições e desaparições. Siegfried é quem, na maioria da vezes, toma a frente do palco, conduzindo o espetáculo com seus gestos contundentes e carismáticos.

O Hotel Mirage, que abrigou Siegfried e Roy por anos, sempre teve em sua platéia figuras ilustres que iam a Vegas exclusivamente para prestigiar a dupla. Michael Jackson (que emprestava suas músicas para o show), Britney Spears, Bill Clinton, Celine Dion – que viu o show mais de dez vezes!- e Angelina Jolie. A lista de estrelados que prestigiaram o show não acaba nunca, mostrando que a potência da dupla não tem tamanho. O palco mágico de Siegfried e Roy em Las Vegas custou 50 milhões de dólares e foi projetado especialmente para sua performance. De 1990- quando o novo espetáculo estreou- a 1995, a dupla faturou incríveis 208 milhões de dólares. Mas não foi só Las Vegas que viu de perto a performance desses ilusionistas. Nos intervalos contratuais com o Mirage, Siegfried e Roy, incansáveis, levaram seu show a Nova Iorque e fizeram também uma temporada no Japão. Sempre casa cheia, sempre sucesso.


O hotel Mirage, em Las Vegas: casa cheia, sempre.

Em 2003, a sensibilidade de Roy não conseguiu antecipar o instinto predador de um de seus animais. Exatamente no dia de seu aniversário de 59 anos, um dos protagonistas do show de maior sucesso da história de Las Vegas foi ferido pela pata de um tigre siberiano de 300 quilos. Depois, foi abocanhado e arrastado pelo pescoço. Tudo isso diante da platéia, que no início acreditou que aquilo fazia parte do show. Roy foi para o hospital em estado critico. Sobreviveu com algumas seqüelas. Quanto maior a exposição ao perigo maior o risco... e maior o show.

A escolha de Siegfried e Roy sempre foi questionada por muitos, mas com certeza eles sempre souberam dos riscos. Trocar pombinhas brancas por animais ferozes com dentes afiados requer muita coragem. Foi o gesto que transformou a dupla em super-heróis, em sensação. O que aconteceu com Roy foi uma tragédia para o mundo da magia e do entretenimento em geral. O maior espetáculo da terra está suspenso por tempo indeterminado.

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