31 de julho de 2009

Numa coisa só

Ei, para os interessados em assuntos da hipnose e do ilusionismo, aí vai um texto do nosso colaborador barbudo, o Otávio Dias. Enjoy!


Numa coisa só
-O ilusionismo hipnótico
-


Já vi muita mágica nos meus anos de estrada : mágica com cartas , bengalas e moedas (aquelas que se espera que um mágico faça naquela festinha de aniversário ); mágica com pedras , garrafas , clipes , telefones , cartões de visita ( ou seja, que são feitas com objetos que estão na carteira de um amigo , no balcão do bar ou caídos no meio da rua ); mega-ilusões, que podem ser classificadas em qualquer lugar entre levitar um pedaço de papel a fazer um prédio inteiro desaparecer .

Por pura mania de organização , costuma-se separar as mágicas em diferentes categorias , como por exemplo :

(a) Magia de palco , aquela que se costuma assistir num teatro ;

(b) Grandes ilusões e mega-ilusões, quando o mágico pode fazer aparecer ou desaparecer uma pessoa , carro , ônibus , trem , prédio ;

(c) Close up, mágicas feitas mano-a-mano, em que o mágico pode dar atenção especial à um pequeno grupo de pessoas ou à uma pessoa somente ( isso significa que ele não precisa carregar um baralho enorme , como possivelmente faria num palco );

(d) Escapismo, categoria em que o mágico tem que se soltar ou safar de algum tipo de prisão ou restrição . O escapismo foi popularizado por Houdini e, hoje , é parte integrante das apresentações que envolvem grandes ilusões ;

(e) Mentalismo, mágicas que acontecem principalmente na cabeça dos envolvidos;

(f)Beach magic, uma categoria mágica que pode envolver elementos das que já foram citadas (e de outras, mas esse pousté não é pra ficar falando de categorias mágicas ...).

O fato é que as categorias mágicas não são excludentes , sendo perfeitamente possível conhecer bem (e executar !, claro ) duas ou mais categorias sem prejuízos artísticos ou profissionais (o que não significa dizer que é uma baba dominar diferentes tipos de magia ; como disse tantas vezes um professor que tive: – “ Tudo é difícil . Se você deseja se aprofundar , rapaz , será difícil .”)

(Tomei a liberdade de mudar um tanto as categorias que o Ismael separou em seu Manual da Mágica )

Estou fugindo ao tema , como sempre . Vinha escrevendo tudo isso pra falar , de novo , da gravação do quadro de mágica pro Band Verão 2009 e, especialmente nessa entrada , pra falar de algo que foi pro ar semana passada : hipnose !

-“ Por favor !, qual a relação entre hipnose e mágica ?” alguém poderia perguntar . A resposta que surge mais rapidamente está em The Myth of the Magus, de Elizabeth Butler: “[A] mágica , devemos lembrar , é uma arte que requer colaboração entre o artista e o público ”.

Claro, pode-se argumentar que essa citação pode ser válida também para outros tipos de performance , mas não creio que seja tão verdadeira quanto no caso da mágica e da hipnose . Abusando das citações , lembro do que o engenheiro Cutter, em O Grande Truque ( que filme !, que filme !) , ensina à filha de Borden: -“O mágico pega o objeto comum e o transforma em algo extraordinário . Vocês estão procurando o segredo , mas não encontrarão... porque não estão realmente olhando... vocês não querem saber ... vocês querem ser enganados.”

E querem mesmo , não há problema algum nisso. A graça do ilusionismo está exatamente em ver algo maravilhoso acontecendo, experimentar a fantasia . Claro , há quem fique procurando pêlo em ovo , sem perceber toda a diversão que está perdendo. Por mais que sejamos convidados a participar dos delírios apresentados em uma peça de teatro , um espetáculo circense , um show de rock, nenhuma outra arte performática carrega o espectador – independente do quão atento à realidade ele queira estar – quanto a mágica e a hipnose ; em todos os casos é necessária boa vontade do espectador , pra topar o que lhe é proposto mas , no caso da hipnose e do ilusionismo , essa vontade é levada à limites : nestas artes a fantasia do espectador é parte mais que ativa da apresentação , ela é também matéria prima .

Essa relação entre mágica e hipnose , a matéria prima que ambas fornecem ao performer, foram determinantes pra inclusão de hipnose no quadro de Beach Magic do Ismael, no Band Verão 2009. “...e, sem mais , a tampa entra na garrafa ! O meu coelhinho de estimação adivinha sua carta ! O nome da sua namorada , a Maria Clara , agora é João!”

Mágico é assim : consegue juntar tudo numa coisa só .

Otávio Dias

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