2 de março de 2010

Malerbi, o artista-mágico (ou mágico-artista?)


Por Bianca Zanatta

A gente fala muito aqui sobre a diferença entre o mágico-malabarista e o mágico-artista. O malabarista acredita que a mágica se sustenta em embaralhamentos ui-que-rápidos!, empalmes alienígenas e outras façanhas dos dedos que impressionam pelo nível de dificuldade. Já o mágico-artista acredita que estes malabarismos sozinhos não bastam pra encantar o público e elevar a mágica ao status de arte – pra ser arte, o ilusionismo precisa de performance, carisma, clima, dramaticidade, poesia, pesquisa, estudo, diálogo com outras linguagens artísticas e corporais. Atenção para o tropeço da língua: INTERDISCIPLINARIDADE, enfim.

Um dos maiores defensores desta bandeira – e talvez, no Brasil, um dos únicos verdadeiros mágicos-artistas que há – é Ricardo Malerbi. Ei, peraí: mágico-artista ou artista-mágico? Ele mesmo diz, em depoimento no livro “Manual da Mágica”, de Ismael de Araujo, que acredita num movimento cultural que o permite “estar na mágica sem ser da mágica”. Mas eu acho que Malerbi não só É da mágica como é, hoje, um dos melhores ilusionistas do Brasil. Isso porque, sim, além de SER da mágica, ele É também da mímica, É do drama, É do teatro físico... Artista que É artista vive esse estado constante de mutação e estudo, esse trabalho fascinante de SER muitas coisas e, ao contrário da maioria, ser BOM em muitas coisas – no caso, para ser também BOM MÁGICO.

Explico a rasgação de seda, que não é gratuita. Malerbi encerrou, no último fim de semana, a segunda temporada de seu espetáculo “Enquanto Houver Encanto”, um misto encantador – dã! – de ilusionismo e mímica. Quem não viu nem da primeira nem da segunda vez perdeu. E torçam para que tenha uma terceira e uma quarta porque esta história muda para crianças de todas as idades, que não tem nada de infantil, faz a gente avatarizar um pouco, por uma breve horinha que seja.

“Enquanto Houver Encanto” não tem palavras – e não precisa. É cenário gracioso, música atualíssima e Malerbi mágico, Malerbi mímico, Malerbi dançarino de nuvens de algodão, Malerbi Chaplin, Malerbi rei da manipulação simples e precisa. A historieta vai mais ou menos assim: um viajante inquieto pega carona num rabo de cometa e pousa num planeta misterioso. Curioso que é, ele começa a explorar o lugar, onde coisas fantásticas acontecem, como levitações, danças de luzes e aparições – tudo feito com ajuda da mágica. E vez em quando, para o deleite das criancinhas e criançonas da platéia, um ratinho mágico escapa do bolso do viajante e brinca com ele. Brinca tão gostoso que até parece de verdade.

Não quero aqui traçar um paralelo óbvio com “O Pequeno Príncipe” de Saint-Exupéry. Até porque as coincidências param no hiperespaço e no planeta misterioso. Com sua arte, Malerbi não ensina grandes lições de vida que podemos estampar em camisetas; o caminho dele, como mágico e como performer das mais diversas artes, vai pelo lado da simplicidade. Como fez quando dirigiu o ilusionista Célio Amino em “Além da Mágica” (de que Ismael de Araujo vai falar aqui depois), em “Enquanto Houver Encanto” Malerbi reafirma uma “tendência capaz de resgatar a mágica e os mágicos do brilhante e brega universo da mágica” (citando o-próprio-ele-mesmo, once again). Tá aí, então, alguém com um objetivo artístico – que ele alcança com graça a poesia, e que a gente aplaude de pé a cada nova empreitada. A lição de vida, aqui, é que não precisa colocar a perna em cima da cabeça pra encantar seu público. Precisa, sim, saber dialogar com toda a poesia que tem no mundo. Daí tudo fica simplesmente ENCANTADOR.

Pra quem quer pelo menos sentir o gostinho do que eu tô falando, lá vai o teaser. E vamos torcer por uma nova temporada, urgente-urgentíssima:


2 comentários:

Thiago disse...

Achei incrível o trabalho do Malerbi.
Mágica e mímica é uma combinação perfeita.
Um verdadeiro espetáculo, misturando a magia e a arte da interpretação.

Parabéns Malerbi.

ricardo malerbi disse...

Carácules!!!!!!! muito obrigado pelos comentários!!!!!!!!

sensíveis e generosos!!!!!

um forte abraço
ricardo malerbi